Une? Que UNE?

09 maio 2010


Um comentarista anônimo perguntou qual a minha opinião sobre a UNE de nossos dias.
Sinceramente meu caro?
A atuação da UNE hoje, pelo menos de minha parte, não merece nem definição.
Me permita retroagir no tempo.
Entrei na UNE com 16 anos de idade, influenciado por colegas do saudoso Pedro II.
Minha família trazia já uma certa herança oposicionista pela atuação de meu pai na tal resistência democrática capitaneada por Brizola e sua “rede da legalidade” (1961-Renúncia de Goulart). Tínhamos uma estação de rádio clandestina que, quando inativa, era devidamente “guardada” em meio aos meus ingênuos brinquedos.
Enquanto Brizola vociferava pela rádio Guaíba, as tramas eram executadas por lideranças regionais para dar sustentação à posse do vice Jânio Quadros.
Tive minha casa vasculhada pela PE por duas vezes. Sentado, brincando com minha inesquecível caixa de brinquedos, a PE foi embora sem dar o devido valor à uma inocente caixinha que me dava tanto prazer.
Esse foi o motivo que me fez decidir entrar para a UNE.
E o fiz no final do ano de 69, aos 16 anos.
O presidente da UNE era Jean Marc e o presidente do Brasil o Gal Médici.
Quando ingressei na UNE ela estava, por assim dizer, meio inativa devido ao decreto 477 que considerava tudo o que os estudantes faziam como crime.
Mesmo assim, nos reuníamos ora na sede da UNE no Flamengo, ora no restaurante calabouço.
A UNE vinha de confrontos acirrados com a polícia da ditadura.
Chegou-se à conclusão de que era preciso reestruturar a UNE.
Participei como “penetra” na 2ª plenária da UNE realizada em um sítio na cidade de Nova Iguaçu.
Os debates eram acirrados mas prevaleceu o conceito de que era preciso mudar.
Vários diretores da UNE havia sido presos e era necessário substituir “as peças”.
O encontro estava previsto para durar 5 dias. No terceiro, tivemos que fugir, pois a PE havia nos descoberto.
Em setembro, Jean Marc é preso.
Fui convocado em 70 para o serviço militar e ingressei no CPOR, onde permaneci como oficial da reserva e lá permaneci até 74 para “assistir” a posse de Geisel.
1976/77 foi o grande momento da UNE.
As passeatas estudantis estouraram por todo o Brasil, principalmente em São Paulo ( Erasmo Dias, lembra? ) e no Rio de Janeiro.
A UNE era e passou a ser a referência das reivindicações da sociedade brasileira.
Nossos protestos levaram à revogação do AI-5.
Sem dinheiro, sem ajuda financeira do governo, a UNE foi a precursora da passeata dos 100 mil.
Isto caro Anônimo, é apenas um resumo do que representou a União Nacional dos Estudantes que pertenci e que vivi.
E hoje?
A UNE é presidida por um estudante profissional que a mais de 10 anos não consegue enfiar debaixo do braço um diploma universitário.
A UNE hoje se subordina a um governo corrupto, mentiroso e que, ainda por cima, flerta com a possibilidade de nos tirar a liberdade de falar.
A UNE hoje se vê envolvida em falcatruas pesadas de desvios de enormes verbas através de convênios fajutos.
A UNE hoje se aventura a idolatrar um miserável como Chaves que consegue ser, entre seus dirigentes, mais ídolo do este Miserável Mentiroso que nos governa.
Acho que só isso já basta para que eu, pessoalmente, nem mesmo tenha definição sobre esse aglomerado de imbecis que dirigem uma entidade que ajudou, de maneira marcante, a derrubar o regime militar.
Você está satisfeito ou gostaria de mais motivos?

 
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